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Manifesto sobre a Inversão Civilizatória

Um apelo global para proteger nossas crianças e jovens do novo abismo moral.

“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal; que fazem da escuridão luz e da luz escuridão.”
(Isaías 5,20)

A sociedade atravessa um processo acelerado de perversão moral, simbólica e espiritual. Não é exagero, não é histeria, não é moralismo. É uma constatação objetiva de que as bases civilizatórias que sustentavam o pudor, a decência, o limite e o respeito foram corroídas por dentro, dissolvidas por uma cultura que relativizou tudo, zombou de tudo, ironizou tudo, transformou tudo em espetáculo e, nesse movimento, abriu as portas para a perversão se tornar norma cotidiana.

O que está acontecendo diante dos nossos olhos é a mutação do corpo em mercadoria pública, da intimidade em vitrine de validação, do sagrado em performance de rede social, da ética em adereço para legendas. A pornografia deixou de ser subterrânea; ela assumiu a forma de soft porn distribuído abertamente, sem filtro, sem vergonha, sem limite, sob discursos de disciplina, de estilo de vida saudável, de motivação e, até mesmo, de fé. A vulgaridade aprendeu a usar frases virtuais de virtude para mascarar intenções que todo olhar sensível percebe. E o mais alarmante é que quase ninguém mais nota o absurdo.

A polarização política destruiu o centro moral da sociedade. De um lado, a extrema direita ridicularizou os bons modos, o politicamente correto e todo gesto de cuidado ético, chamando tudo de frescura, fraqueza ou censura. De outro, setores da esquerda passaram a reagir chamando qualquer alerta moral de moralismo, confundindo pudor com opressão, limite com conservadorismo tóxico. No choque entre essas duas cegueiras, o eixo moral que sustentava a civilização desapareceu. E onde não há eixo, há caos.

Nesse vácuo, as doenças civilizacionais oportunistas se espalharam com brutalidade: erotização constante do cotidiano, quebra gradual da sensibilidade natural, exposição contínua de corpos e gestos insinuantes, condicionamento do olhar para percepções que antes pertenceriam apenas à intimidade e à maturidade. Crianças e adolescentes estão sendo expostos diariamente a conteúdos que moldam seu olhar sem que tenham maturidade para filtrá-los; e isso ocorre porque as redes sociais, sem freios claros, normalizam comportamentos e imagens que deveriam estar muito longe do acesso amplo e irrestrito.

O algoritmo não é neutro. Ele premia a carne. Ele premia o gesto insinuante. Ele premia o volume marcado sob o tecido. Ele premia a pose estudada. Ele premia o brilho sedutor mascarado de rotina saudável. Ele premia o conteúdo que desperta desejo mesmo quando é apresentado com aparência inofensiva.
E quando o algoritmo premia, a sociedade imita.
E quando a sociedade imita, a perversão vira regra.

O mais grave é que isso não para no âmbito civil. A própria Igreja está se tornando palco dessa erosão simbólica. Padres se transformam em performers digitais, moldando a imagem do corpo como produto, trocando a sobriedade do ministério por uma estética de celebridade, confundindo carisma com sedução sutil, deixando que a vaidade ocupe o espaço que deveria pertencer ao sagrado. A figura sacerdotal — que deveria ser o último bastião da reserva simbólica — está sendo absorvida pela lógica do engajamento. A liturgia perde profundidade quando o corpo do ministro se converte em elemento de atração. E com isso, o sagrado é barateado até o limite da profanação.

Essa perversão cotidiana, essa falta de freio moral, é o anúncio de algo mais grave: a erosão progressiva da sensibilidade ética. Quando uma sociedade perde a capacidade de se envergonhar, ela perde a capacidade de proteger. Quando o olhar é treinado para a insinuação desde cedo, os limites entre carinho e desejo se confundem. As fronteiras afetivas se tornam vulneráveis. A confusão moral abre espaço para comportamentos ambíguos que desordenam o afeto e colocam em risco os mais frágeis.

Estamos vivendo uma civilização pervertida. Não completamente depravada — ainda — mas profundamente pervertida. Um passo antes do abismo mais profundo. Um passo antes daquilo que corrói famílias, comunidades, vocações, símbolos e a própria inocência. Um passo antes da repetição do Jardim das Delícias Terrenas: aquela confusão caótica de corpos e desejos, aquele espaço onde prazer substitui transcendência, onde tudo é mistura, onde nada aponta para o alto.
Como no afresco do Juízo Final, estamos mergulhados num mar de figuras erotizadas, numa composição onde nada é céu, nada é terra, tudo é água — água turva, caótica, sem forma — onde o sagrado, o profano, o alto e o baixo se misturam numa teatralidade que confunde e arrasta.

Não é preciso atravessar experiências extremas para perceber isso. Basta sensibilidade. Basta lucidez. Basta ter o olhar não entorpecido pelo fluxo contínuo de estímulos. Nós percebemos isso nas redes sociais, nos ambientes públicos, nas interações digitais, nos comportamentos que se repetem sem reflexão. É perceptível aos sensíveis; é gritante aos atentos; e é insuportavelmente claro para quem guarda o espírito desperto.

Este Manifesto não é um pedido. Não é um aviso técnico. Não é um documento institucional.
É um grito.
É um alerta profético.
É a consciência dizendo: basta.

É o chamado para restaurar a ordem simbólica.
Para purificar o olhar.
Para reacender o pudor como valor espiritual e civilizatório.
Para proteger as crianças do condicionamento perverso, os adolescentes da confusão ética, os adultos da normalização da vulgaridade, os sacerdotes da sedução da vaidade, e a própria fé da deterioração estética que ameaça sua integridade.

É o chamado para subir de volta o monte.
Para sair do vale assombrado.
Para reencontrar a luz.
Para reerguer o Tabor e restaurar o que ainda pode ser salvo.

E aqui se coloca o compromisso.
O testemunho.
A decisão de não se calar diante da perversão civilizatória.
A decisão de trabalhar para puxar a humanidade de volta para o alto, antes que ela seja tragada de vez pelo mar do desvio moral que se ergue diante de nós.

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Uma resposta para “Manifesto sobre a Inversão Civilizatória”.

  1. Avatar de Jorge da Silva Prosdócimo - MEI

    Verdades!

    Falando especificamente do Brasil, é lamentável e deprimente o (des)nível de indução à sensualidade.

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