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Um Alerta do Sagrado᛭

A urgente vigilância no mundo digital

“Quando vier o Filho do Homem, será que ainda encontrará fé sobre a terra?”
— Lucas 18, 8

I. O limiar da banalidade sagrada

Vivemos dias em que o sagrado é exposto, arranhado, absorvido e usado pelo algoritmo. A figura de Cristo circula em vídeos curtos, com filtros e cortes apelativos. Cânticos, salmos, bênçãos — tudo ao alcance de um scroll.

Mas no meio da profusão de conteúdos religiosos nas redes, algo grave está acontecendo: a desfiguração da imagem sagrada em nome da visibilidade pessoal.

Nem sempre há má intenção. Às vezes, há apenas carência. Outras vezes, soberba. Mas a consequência é a mesma: a instrumentalização da fé.

Este alerta nasce não como julgamento, mas como ato de cuidado. Ele é voltado, sobretudo, àqueles que carregam sobre si a responsabilidade espiritual — padres, pastores, evangelizadores, religiosos e religiosas, que decidiram tornar público seu serviço, sua imagem, sua missão.


II. Entre o altar e a câmera: o risco invisível

Dois tipos de armadilhas se apresentam nesse cenário:

  1. O ego inflamado, que transforma o sacerdote em performer de si mesmo. Isso se manifesta, muitas vezes, no resgate teatral de hábitos antigos, na afetação autoritária, na linguagem de guerra espiritual que não forma, apenas subjuga.
  2. A carência afetiva não resolvida, que transforma o padre em personagem da sua própria solidão. É a busca velada por amor, atenção, afirmação — projetada em olhares, tons de voz, legendas, ângulos. Um flerte sutil que se esconde sob vestes sacras.

Em ambos os casos, a cruz de Cristo vai ficando de lado.
E quando a cruz sai do centro, entra o “eu”.

O que era para ser ministério vira monólogo. E a presença vira palco.


III. A queda não começa no escândalo, começa no olhar

Poucos perceberão. Mas o Espírito percebe.

O desvio não começa com a heresia doutrinal. Começa com um gesto. Um tom. Um olhar enviesado, com sedução sutil. Um sorrisinho projetado com intenção. Uma escolha estética que revela mais do coração do que se gostaria de admitir.

Mesmo sem querer, é possível transmitir sensualidade com a batina. É possível provocar com a Palavra. É possível fazer do altar um camarim.

E a internet — espaço que tende ao profano por excelência — amplifica esses sinais até que eles se tornem grito.
E quem assiste, mesmo sem nomear, sente.


IV. A ferida aberta no corpo da Igreja

O problema não está apenas no indivíduo e sua conduta, mas na estrutura que o acolhe e o impulsiona.

Quando um padre se projeta para além do evangelho que anuncia, toda a Igreja se fere. Porque ali, na tela, ele carrega não só sua imagem — mas o nome de Jesus, o peso do altar, a herança dos apóstolos, o coração dos pequenos que o seguem confiando.

A exposição mal conduzida pode causar escândalo (skandalon).
Mas pior do que o escândalo é a erosão lenta da credibilidade do sagrado e tudo que o envolve.

A perda da reverência.
O esvaziamento da linguagem sagrada.
O riso debochado do inferno ao ver a liturgia transformada em conteúdo.

E o mais cruel: quem se fere primeiro é quem mais ama.
Os pequenos.
Os puros.
Os que ainda acreditam.

Esses, sim, são os atingidos pela profanação disfarçada de evangelização.


V. O uso profano da linguagem santa

Palavras como “anjo”, “Senhor”, “glória”, “redenção”, “cruz” aparecem como trilha para conteúdos com estética ambígua.

Uma ambiguidade que neutraliza o discernimento.
Que causa confusão nos sentidos.
Que alimenta fantasias emocionais — e até sexuais — em quem deveria estar sendo guiado espiritualmente.

Não é só a nudez que erotiza.
O olhar também. A entonação. A narrativa. O apelo emocional mal calibrado.

É possível cantar Jesus com o espírito de Narciso.
E é isso que está acontecendo.


VI. Do Alerta à Realidade: Os Exemplos na Tela

Esta não é uma reflexão teórica.
Os exemplos são diários e claros, e ilustram perfeitamente as armadilhas:

  • O Sacerdote-Performer: o ministério se transforma em palco para o humor secular ou para a “lacração” digital. O sacerdote abandona a linguagem pastoral e adota o tom de comediante ou de “coach” de confronto.
  • A Rigidez Separatista: posturas e práticas litúrgicas que remetem a um aparente retrocesso anterior ao Concílio Vaticano II. Apresentadas como “resgate” de pureza, acabam fomentando julgamento e comparação, separando o rebanho sob uma “régua de santidade auto-investida”.
  • A Estética Ambígua: perfis públicos onde o título de “Padre” se mistura a fotos ou vídeos com poses sensuais e olhares insinuantes. É o flerte sutil sob vestes sacras — ou sem elas.
  • A Carência Exposta: o perfil digital se torna um diário íntimo. O sacerdote filma a si mesmo em momentos de vulnerabilidade, transformando o rebanho em plateia da sua solidão.
  • O Esvaziamento da Liturgia: talvez o mais grave. Vídeos de celebrações, bênçãos e ritos são intercalados com cenas cotidianas banais, unidas por trilhas seculares e filtros estéticos. O sagrado e o profano são nivelados pela edição. A liturgia vira apenas mais um take para compor o conteúdo.

VII. Não nos deixemos enganar: o Espírito conhece

A verdade é simples e ardente: o Espírito Santo conhece os detalhes.

Conhece o que há no íntimo.
Conhece o teatro.
Conhece a manipulação.
Conhece o olhar que finge não saber o que está fazendo, mas sabe.

E é por isso que essa reflexão precisa ser feita.
Não para censurar a missão digital.
Mas para purificá-la.
Para reorientá-la.
Para trazer de volta a cruz para o centro da tela.


VIII. Um chamado à humildade, vigilância e reparação

Este alerta não é contra a evangelização digital. Pelo contrário: ele é por ela.

A mesma plataforma que hospeda os desvios é a que pode veicular, com toda a sobriedade e reverência, um Hymnus Pontificius cantado ao órgão — provando que a ferramenta é neutra; o coração do evangelizador é que define seu uso.

É um chamado à sobriedade.
Ao discernimento espiritual.
Ao cuidado profundo com a linguagem, com a estética, com a postura, com a motivação.

É um grito de amor pela santidade.
E é, acima de tudo, um convite à reparação.

Se você tem um canal, um perfil, uma página, um rebanho que te acompanha — examine-se com coragem.
Peça luz.

Pergunte-se:
estou levando os olhos para Jesus ou para mim?
Estou atraindo para a fé ou para o fascínio da minha figura?
Estou servindo ou seduzindo?

O céu vê.
Os anjos choram.
E os pequenos se perdem quando o altar vira vitrine.

Este alerta é um chamado à reparação.
Que ele se espalhe como brasa viva —
pois a tela também pode ser altar,
se o coração permanecer ajoelhado.

Vigilância não é censura; é cuidado.
E o sagrado não aceita ser brinquedo do algoritmo.

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2 respostas para “Um Alerta do Sagrado᛭”.

  1. Avatar de rute
    rute

    Igreja santa e pecadora !

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  2. Avatar de Vanderlei Campaner
    Vanderlei Campaner

    Muito bom o texto. podemos aplicar a qualque religã

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